A
dinamização óbvia na novela das seis sobre o Pará e a cultura paraense anda
tornando, em parte, a coisa um tanto banalizada – até mesmo exagerada, em
certos pontos, valendo-me do educado eufemismo. O exagero no uso de palavreados
paraenses, por exemplo, chega a enjoar – e em nosso estado (sou paraense),
algumas vezes até faz rir. Nunca um paraense esteve tão “aruá”; nunca um “égua”
soou tão hilário.
Conversei
com um gaúcho há pouco tempo sobre o assunto e ele me revelou que para ele era
também cômico – valendo-se do santo eufemismo também, provavelmente – ver um
“não nativo” forçando palavreados regionais que estamos acostumados a crescer
ouvindo com uma fluidez simples. Direta, sem travamentos na pronúncia; ambos
concordamos com a estranheza auditiva quando nos deparamos com situações do
tipo. Das mais complexas variações às mais simples formas de falar: quando a
fala é nossa, a gente deita e rola nela da forma que só a gente sabe fazer.
Grande
e maior exemplo de uma típica gíria paraense e, sem dúvidas, a mais ouvida no
dia-a-dia (não é o “jururu” que tanto repetem na novela – perdão pela
decepção): “égua”. Aqui, “égua” é sentimento. “Égua” é lírico. “Égua” é poesia
– “égua” devia estar no dicionário de tanto ser verbalizado por milhões de
pessoas dezenas, centenas, milhares de vezes por dia. O maravilhoso “égua”, com
suas mil e uma utilidades para o vocabulário, nunca nos deixa na mão. Na saúde,
na doença, na tristeza, no espanto, na decepção, na felicidade, no choro ou no
riso: o “égua” lá está, dissílabo e bem intencionado (ambíguo nos ouvidos mal
treinados), para nos ajudar nos fraseares da vida e na formação da identidade
regional.
É
por isso que é válido quando é dito que não há como imitar um dizer ou agir
regional. Pode ser o ator que for, com o talento que for: é regional. Neste
caso, é paraense. Sendo “égua”, sendo “jururu” ou “aruá”: é de Belém do
Grão-Pará, terra do açaí e do tacacá. É todinho meu. É marca minha, tatuagem
minha. E o que é meu ninguém consegue fazer igual.
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