Como
estou tratando de um assunto delicado e – descobri com um susto – comum, que
fique claro que o caso e as ideias são unicamente individuais.
Há
algum tempo, uma grande amiga minha entrou num embate psicológico quando foi se
decidir para qual curso prestaria vestibular. Sem me colocar em seu lugar, eu
gritava em plenos pulmões que ela deveria prestar para o que ela realmente
sonhava. Sem contestar. Por razões que não precisam ser enunciadas, minha amiga
acabou escolhendo um curso que não era tanto assim sua cara e, por mercado de
trabalho abrangente, ela passou e cursou. Não muito tempo depois, minha amiga
revelou que não estava feliz no curso e eu disse com toda pompa: “não te
avisei?!” – ainda, claro, sem me colocar em seu lugar. Nunca pensei, é claro,
que eu estaria em seu mesmo lugar pouco tempo depois.
Encontrei-me,
assustado, no ano seguinte, numa dúvida esquisita de qual curso prestar (esquisita
porque são cursos praticamente iguais e poderiam me levar ao mesmo lugar, se eu
quisesse). Tinha medo do que escolher, porém era um medo superficial, já que o
meu sonho é apenas um: música. Cantar.
Mas
o susto que tomei logo após foi de uma mulher um tanto feia que nem sempre anda
ao nosso lado, já que não gostamos muito de olhá-la: a Realidade. Sempre me amarrei
firmemente ao discurso clássico que a indústria publicitária adora pregar:
“Viva seu sonho! Corra atrás sem se importar com as consequências, não desista!
Você merece!”, o que me vendou para o que realmente a vida nos faz escolher num
dado momento. A venda normalmente sai quando temos que respirar e nos perguntar
num suspiro, suando frio: “Droga, o que
diabos eu faço?”.
Eu
sempre fui muito bom em escrever. Sempre gostei de Linguagens e Línguas, minhas
melhores notas sempre foram nas matérias relacionadas a essa área. Eu sempre
fui o chato que fazia textos extrapolando as linhas exigidas, o que ficava
retinho nas aulas, o queridinho da titia de Português. Até pouco tempo meu
sonho era ser jornalista – até eu descobrir a música.
É
tudo culpa de minha amiga Indira (se estiver lendo isso, cacetada, foi você
mesma!) que me apresentou o canto de uma forma tão shakespeariana que me
dediquei mês após mês, anos após ano, em melhorar dicção, extensão vocal,
impostação: tudo sozinho. A música invadiu a minha vida como um tsunami e me
embriagou com o seu universo de prazer, amor e até a parte ostentativa da
coisa. Eu amo cantar. É como Indira
mesmo disse uma vez, num momento inocente de nossas conversas assanhadas: “eu
só sei ser feliz cantando”.
E
eu finalmente entendi minha amiga Larissa. Essa guerra ideológica nos desgasta
profundamente, logo que há dois valores em jogo: fazer o que você sabe fazer e
que sabe que se fizer vencerá, e fazer o que você ama mais que tudo fazer, mas
o caminho até a vitória é incerto e de pedras. Para sanar a provável
curiosidade do meu caro leitor, eu ainda não me decidi; na verdade, estou
escrevendo este texto justamente pela interrogação que está nos meus
pensamentos. Vou decidir entre ser racional e louco; escrever entre o certo e o
incerto.
Se
bem que eu sempre pendi pros desafios...
Sei lá.