segunda-feira, 4 de junho de 2012

Feminismo: de Teoria à Filosofia de Vida

Nunca ninguém havia me avisado o quanto era difícil ser feminista, mas ninguém mesmo nunca havia me avisado e era difícil em dobro ser um homem feminista. Não que se eu houvesse recebido algum aviso eu não me tornaria um (não sou traíra não), mas, sem dúvidas, ser feminista é difícil.
Na verdade, pensando agora, tudo começou da forma com que costuma começar com muita gente: leituras de escritoras pós-modernas, o pequeno espanto ao se deparar com as três vertentes que o Feminismo prega contra:  machismo, racismo e homofobia – esta última a qual me fez ser um devoto fiel. Ou seja: o Feminismo não era só um movimento emancipacionista de gênero, mas sim contra qualquer tipo de subjulgamento, seja perante cor, etnia, sexo ou opções! Era bem melhor que a encomenda.
Apaixonei-me instantaneamente, é claro.
Depois – como sempre acontece comigo e com muitas pessoas, no cume do fogo de uma descoberta excitante – virei imediatamente militante. Saía estufando o peito e fazendo cara de mal como aqueles adolescentes esquisitos do longa A Onda, dizendo que era feminista com tanta seriedade que parecia era fazer parte de uma sociedade secreta. Infelizmente, deturpei alguns valores do movimento e acabei montando em cima destes para fazer pouco de outros que considerava errado (em minha defesa, posso dizer que eu era muito imaturo para ideais tão revolucionários: virei militante aos quatorze anos). Era do tipo chato de pessoa que em toda frase fazia uma citação de uma grande personalidade do movimento, mas eu era bem mais chato, porque enunciava incorporando a tal pessoa e depois batia cabelo e saía me achando e de nariz em pé (precisavam me ver fazendo a Margareth Thatcher, ou a Gretchen – aliás, me tornei o “Conga” num círculo íntimo estranho de alguns amigos durante um tempo. Eles falavam isso nas minhas costas!).
Até que alguém me deu um sopapo de consciência e eu abaixei a crista, o que me fez respirar melhor os ares do movimento feminista. Com calma, então, começara a estudar com mente aberta e crítica os preceitos e todas as vertentes do movimento: das mais radicais (como aquela meio absurda que defende o total celibato entre de homens) às mais sutis (tipo aquela outra que só quer ganhar um pouquinho mais de independência financeira). Meditei sobre como, onde e quando o Feminismo deveria ser aplicado na minha vida e nos meus argumentos e também comecei a olhar para trás, para a história da minha família e as constituem e constituíam, pois havia lido em algum lugar que “feminista que não olha pro próprio umbigo e família tende a ser hipócrita” (infelizmente, não descobri muita coisa boa, mas eu já havia ido preparado para enfrentar os escombros do porão do meu sobrenome). Antes eu consumia o Feminismo cru; passei a lavá-lo, cortá-lo, separá-lo das partes que não combinavam comigo, cozinhá-lo, temperá-lo muito bem para depois consumi-lo (de preferência com molho de tomate e queijo ralado, à gosto).
Transformei o Feminismo num hábito. Associei-o a minha vida: acostumei-me a ele. Feminismo virou uma tatuagem, algo que eu fizesse esforço algum para usar. Tornou-se algo como um idioma novo, o qual você é fluente. Passei a chama-lo de filosofia de vida, já que é isso que ele se tornou: uma ioga social, política e anti repressora.
É por isso que acho potencialmente problemático quando alguém se diz feminista só por ter lido algo sobre sufrágio, ou por ter assistido o filme “Dama de Ferro” umas duas vezes em DVD. Essas pessoas levantam uma bandeira sem saber a nação que está sendo ali representada. Todo o suor – e, infelizmente, sangue que foi derramado para construir o que hoje chamamos de Movimento Feminista: uma instituição (para mim é uma, no melhor sentido da palavra) sólida, revolucionária, que levou séculos e muita garganta rouca para ser reconhecida e respeitada.
Portanto, caro amigo que é aspirante a feminista, antes leia sobre o assunto, informe-se, saiba mais sobre os grandes exemplos históricos. Vá preparado para uma discussão sobre o assunto. Minha mãe me disse uma vez que o perdedor de uma briga ideológica é sempre o primeiro que hesita sem convicção, e isso é uma verdade. Até porque nunca um guerreiro (e é o que somos: militantes contra uma sociedade ainda repressora) vai sem espada e escudo guerrear.

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