segunda-feira, 18 de junho de 2012

Coisa de Camões


Essa coisa de amar dói. E dói mesmo. Fico me perguntando se Camões ficou no mesmo estado que eu para poder definir aquilo tudo tão brilhantemente – alguns segundos de pensar e, então, percebo que não. Não. Ele talvez não estivesse distante do seu amor – e, quase com certeza, seu amor não era um homem; ele, eu acho, não havia planejado sua vida toda com esse alguém – o jardim com balanços, a cozinha grande, o quarto privado no sótão (talvez nem o termo “sótão” existisse) –, mas acho que havia, com certeza, fantasiado com ao menos parte disso. Ou com algo parecido com isso. Sem dúvidas não havia acabado de desligar o telefone para escrever o poema de amor mais profundo e tocante do mundo, mas acho que posso senti-lo debruçado em lágrimas tal qual fiquei logo após o ato; não sei se seu amor foi correspondido, não sei se houve contato físico, não sei se consumaram seus sentimentos no ápice glorioso da união do amoroso ao libidinoso, mas, se esta última aconteceu, sinto inveja. Muita inveja, assim como senti do antigo caso de meu amor quando soube que chegaram à além. Ela pôde, pelo poeta, ser tocada – ela pôde ser tomada nos braços de Camões e possuída, possuída de corpo e alma, naquele emaranhado confuso de suor, vozes e toques, enquanto eu... eu tenho de me contentar com vagos resquícios de devaneios há muito sonhados. Tenho de me contentar com a memória imaginária de estar sob seu corpo, com seu quadril entre minhas pernas e meus braços seguros em seus ombros, naquela dança frenética onde um sexo devora outro, sem cessar, e as línguas se enroscam entre os arquejos de satisfação, lascívia e imprudência – sim, imprudência, logo que mesmo que respeitemos um ao outro onde quer que estejamos, entre quatro paredes somos um do outro. Um do outro, sem medidas – um do outro sem restrições.
Tenho medo de tentar imaginar se Camões se permitiu mergulhar em seu amor e desaparecer nas profundezas do mesmo, pois me sinto receoso em fazê-lo – não sei quanto a Camões, mas já sofri demais por me entregar de corpo e alma para um sentimento. Entretanto, qual seria a finalidade, céus, de estar apaixonado?! Não é estar completamente entregue, física e sentimentalmente, para o outro?? Não é estar disposto a enfrentar o que quer que seja por ele? Não é descontentar-se contentemente?
E será que Camões pediu calma e ao mesmo tempo não pôde esperar? Será que Camões pediu silêncio e, ao mesmo tempo, gritou de amor? Será que, Deus, Camões pediu racionalidade e quase se tornou um maldito louco depravado? Será que Camões quis carinho, mas, ao mesmo tempo, implorou por prazer? Será que Camões não estava pronto e, ainda assim, entregou-se? E a maior pergunta de todas: depois de tudo isso, será que Camões, finalmente, foi feliz?
Só sei dizer que nada sei dizer. Mas sei que isto desatina brutalmente a doer... também sei, porém, que não quero que deixe de doer.
Só sei dizer que gosto que doa.
Só sei doer.
Só sei amar.

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